Soneto do homem imortal
Então, despedir-me-ei de todos, um a um,
E fecharei os olhos e lembrarei.
E sorrirei com o canto direito da boca,
de leve.
Mas ninguém me verá.
Mundo sem árvores, sem girassóis.
Céu só luz. Corpo sem pele.
[alma vazia
Treinarei tantas vezes. Escreverei tantas frases.
Tantos discursos fúnebres...
E verei todos que mais amei serem levados
Lavados. Leva. Pro fundo da terra.
E chorarei
Sem que as lágrimas toquem o chão.
Não há chão onde se fixe a terra.
Escavarei o pó
do pó
Revolver-me-ei, sentimentos breves, grão a grão.
Mundo vazio. Solidão.
Enterrar-me-ei em mim.
Refar-me-ei mundo, então.
Manoel Guedes de Almeida
Santos-SP, terça-feira, 04 de novembro de 08.
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