Gênesis
Um dia, quando ainda não havia dia algum,
E tudo era a ausência de tudo
Dissera Deus:
Que se faça o caos. E o caos se fez
Da eterna desordem das coisas.
E o caos então criou o homem.
E o homem, no balanço de tudo que não havia,
Frustrado por não possuir o que não possuía
Criou um deus.
E o Pai, tristonho, abandonado,
Inutilizado e esquecido pela nova crença,
Que a tudo explica e a tudo esconde e esconde-se na fé,
A ciência do espírito e a essência da ilusão,
Está eternamente descansando
Em sua tenda de nuvem em algum lugar de algum mundo
Ou em uma estrela qualquer,
Observando, de longe,
Nossa incessante busca e tola fé.
Não. Deus não está em todos os lugares.
Não está aqui agora. Nem à nossa volta nos cuidando.
Já foi há muito por nós expulsado.
E, insensatos, um imã de geladeira à nossa imagem idolatramos.
E por ele rogamos,
E a ele entregamos a alma de nossos filhos
A ele, perdidos, pedimos perdão,
E cremos sermos perdoados.
E a ele entregamos nossas próprias almas...,
Reflexo de nosso ego inflado.
Esculpimos a nós mesmos no sabão,
Apagamos a luz e fingimos tê-lo perdido.
Se ascendemos uma vela, o encontramos.
Felizes em nossa ilusão, erguemos altar e fazemos oração.
Depositamos ali todos os nossos sonhos,
O que devíamos levar conosco para todo o sempre.
É que em nossas mentes hipócritas
Não há espaço algum a Ele agora.
Se estivesse aqui no mundo, não o procuraríamos tanto.
Ele está lá, em algum remoto canto, nos observando,
E nós cá, baratas tontas,
Venerando nosso próprio espelho,
Tentamos voar e alcançá-Lo com as asas que criamos. Tolos.
Não sabemos pra onde voar. E se lançamo-nos ao ar,
Perdemo-nos sem rumo
No infinito espaço de nossas falsas esperanças.
Manoel Guedes de Almeida
Santos-SP, terça-feira, 29 de julho de 2008.
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