sábado, 28 de fevereiro de 2009

[A última lágrima de Ismália/



Homens tolos, estes. São todos tolos!
Procuram um sentido pra tudo
Mas sequer percebem
Não há sentido algum!
Não há significado nas escolhas escondido.
Não há escolhas nem caminhos que se possam seguir.
Não há destino além do acaso talhado
Na nossa testa
E os mandamentos escritos com sangue, nosso sangue,
Sempre se apagarão no cessar da velha orquestra.

Homens tolos, estes...
Sempre procurando um sentido pra vida
E uma explicação para todas as coisas.
Não vêem que o sentido da vida é o sentido que a vida dá!
E das coisas, só resta a explicação teórica de algo inexistente.
E vivem um sonho nutrido pela ilusão de vida eterna e felicidade ilusórios,
Enganados pelas próprias mentiras.
A vida não mais nos dá sentido algum.
Há muito se rendeu desiludida à nossa hipócrita mediocridade.

Pobres homens, estes...
Traçam caminhos, mas não os seguem.
Criam imagens, mas não às pintam. Depois às esquecem!
Nem percebem, em sua ingenuidade inconsciente,
Que não há caminho algum!
E as imagens são apenas lembranças de um futuro improvável...
A vida é eterna rotação. E giram e giram
Em torno do eixo de seus mundinhos particulares.
Infantis, querem desbravar o universo inteiro,
[mas estão perdidos em si mesmos].


E jogam sementes na pedra bruta... e guerreiam por uma paz impossível...
Têm a falsa idéia de controle sobre seus próprios atos.
Gostam da sensação de poder que não possuem.
São meras pedras de barro lançadas ao mar. Nada mais.

Procuram vida em outros planetas
Que justifique a falta de vida neste.
Batizam novas estrelas. Novos bebês. Novas marionetes.
Pobres homens. Todos nus. Sem nome. Semimortos.
Tentam encontrar a essência da vida em outros mundos
Pois venderam as próprias em liquidação há muito.
Havia tantos mundos neste... tantas almas...
[destruíram tudo!...


Na ausência de si, fazem poemas.
Choram sós no banheiro. Em segredo
Lavam o corpo vazio. Roubado. Sem alma.

Repousam a cabeça sobre os joelhos, curvados,
E deixam que a chuva escorra do único céu que lhes restou.
Fecham os olhos. Tentam pensar. Não há nada.

Não entendem nada.
Não sentem nada.
Não são nada...
Feto sem mãe.
Casa sem teto.
Céu vazio [criança sem Pai]

Amor sem afeto.

Mas não há nada para entender.
Estão ali, sobre o piso molhado.
Todo o resto foge.
Apenas a quente água sobre os ombros resta...
Então por que inda choram?!


Manoel Guedes de Almeida
Santos-SP, domingo, 27 de julho de 2008.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009





?

Ela: tu me amas?

Ele: amo-te.

Ela: então prova!

Ele: provar?!

Ela: é. Se me amas, então prove.

Ele: ...

Ela: ... não me amas...

Ele: é que... é que não posso...

Ela: como não pode?!

Ela:...

Ele: ... não posso...

Ela: então ta! Ta tudo acabado!

Lágrimas...

Ele: você ama Deus?

Ela: amo!

Ele: prove!...

Ela: ...

Ele: ...

Ela: amo-te.

Ele: eu sei. Também te amo.

Silêncio.





Manoel Guedes de Almeida

Santos-SP, segunda-feira, 28 de julho de 2008.


Sobre o destino


Desci do carro apressado. Ela estava lá, com aquele vestido verde feio e aquele olhar profundo. Olhou-me nos olhos e pareceu enxergar minha alma. Fiquei quieto. Calado.
Apoiou seu joelho na borda de concreto da ponte velha por sobre aquele rio, o nosso rio, e ergueu-se, fazendo-se mais próxima do céu.


Era época de seca e se via um fio triste e solitário de água turva a cortar a areia branca aquecida pelo Sol, como uma única veia ainda a ousar alimentar a terra. E o vento era quente e insuportável, e me ardia o corpo ao toque, e lhe balançava os cabelos soltos como se a no céu voar.
Não senti desespero nem medo. Não senti nada.


Encostei-me lentamente. Tentei falar, mas não me saiu sequer uma única palavra. Queria convencê-la a não pular, dizer que ela é a pessoa mais importante de minha vida e por quem eu largaria tudo. Mas não disse. Queria puxá-la à força dali e repousá-la nos meus braços. Seu ser herói, seu anjo protetor. Mas não o fiz. Fiquei estático.


Escorreu pela sua face pálida. Passou pelos seus lábios que tremulavam. Mas não havia medo na sua face. Esperou por algum tempo no seu queixo fino. Acumulou-se um pouco, e finalmente caiu ao chão como em câmera lenta, e senti-me mera ameba impotente, incapaz de impedir a lágrima de quem eu amo. Incapaz de dizer o que eu sinto.
Sentei-me então ao seu lado, pendendo os pés ao vão. Fechei os olhos e senti o vento. Não mais me abrasava o rosto. Ela sentou-se junto a mim e o silencio nos cercou por um tempo, afagou-nos o rosto, pegou-nos no colo e disse-nos estar tudo bem. Mais seguro, repousei minha mão sobre a dela. Senti aquela mão na minha e a aliança que há muito a dera.


Disse então, dentre soluços incontidos, que eu estaria com ela para todo sempre. Não tentei entendê-la nem mesmo impedi-la. Ela estava ali e eu também. E só. Ela disse que me amava, mas que seria necessário. Mas não era necessário explicar. Eu não queria explicação alguma.


Lembrei de nossas conversas malucas e pedidos de casamento inesperados. Lembrei-me naquele instante de toda a minha vida. Sonhei ali, novamente, todos os nossos sonhos passados. E chorei, mas as lágrimas sumiam antes que tocassem o chão. "Queria uma casa no lago", disse baixinho. Ela me disse "Também". "Queria um cachorro e filhos que brincassem com ele". Ela me disse "Também". Perguntei do futuro que construiríamos juntos. Ela me respondeu ser impossível, e me pediu perdão. Mas não havia crime algum a ser perdoado. Disse que a amava muito. Ela balançou a cabeça e disse "eu sei". E se calou.


Não ousei perguntar o motivo. Acho que não suportaria a resposta. Mas fiz promessas e eu sempre às cumpro.
Ergueu então a cabeça, de leve, e olhou-me nos olhos. Disse-me "te amo muito" e pediu para que eu nunca a esquecesse. E senti um aperto mais forte de sua mão na minha. Um adeus escondido no toque. Beijei-a o rosto e depois toquei seus lábios com os meus. Disse-a "nunca".


Pendeu seu corpo e largou-se ao ar. Eu fui junto.


Manoel Guedes de Almeida
Santos-SP, quarta-feira, 30 de julho de 2008.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Fachada remota.














 Não existe motivação para a poesia.

Ao menos a minha, é opaca.

Influenciada pela embriaguez da lua.

Ou a chegada da madrugada.

 

Por quê, ora ou outra, mastigado

Por uma débil alegria

Estou a catar os copos

Do último festim, feito sangria.

 

E esse balão morno, invólucro

De ventania

Come o vesgo óbolo

Para reinar no vicio, na putaria;

Festejar um escândalo nascente

Do poeta e seu Deus um simulacro.

 

Não, só o que bebo, e recaio,

Como um trovão, apartado da luz,

Como um beijo de fim, sem laço,

Não escrevi com sangue, disfarço,

A cantilena do que sou.

 

Fiquem com as ruas, calçadas, postes;

Com tudo o que quiserem

Motivação é merda, estro é desdém

Poesia é mentira.

 

 

 Thymochenko C.

 

II

Escuto os strokes...

Minha agonia sólida sobre a cidade se expande como um balão frio.


Tento fugir dos meus erros e cato os retalhos de tuas palavras. E teu olhar,
como uma flor esmagada pelo azul, flui instintivamente pelo meu medo.
Como a comoção mais pueril ante a um pesadelo.

Alguns acorde da canção remetem a estradas, o ócio sufoca, fantasmas

E versões de tua voz coagulada, intensificam meu despropósito...

 
Matei todos os sinos de nossos passos. Cavalguei todo o horizonte colhendo frutos que não pediste. Maculei as nuvens que tuas ilusões desenhavam...


Maldito poema. Onde estará o teu perfume? Onde haverá o teu grito de novo?
Lágrima escura! Fluxo de tempestade! - Tudo que criei em pincéis de grifo e standards

frias marcações de um relógio mole.... Violões de gris, abstrações pollock...



A Rua com teus cabelos

E a manhã infestada de formigas de aza.
Sorriu na minha previsão de fevereiro,

Onde terei instantes calmos e esquecimentos brancos...

 

 

A rua da tua casa

 

Estranho, como a rua da tua casa

Festejada de azul e liame a estrelas em tuas pegadas

Não mudou de cor ou tom

De cheiro ou clarões para a alvorada.

 

Estranho, dentro de mim

Frente a um arcabouço de símbolos e objetos

Estiveram gravadas estrelas e versos

Para a percepção incurável de tua chegada.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

/ VENCIMENTO

Com sentimento vitalício,
Tal carnaval de ano em ano
Se renova -
Riso brando e fantasia
Graciados
Lindas
Pardas, alvas, sardas
Cores a contento do arco-íris,
À massa enfeite
Que o raiar é dia


Danação tigélica de quatro,
Cantos do mundo,
Sem rima e
Timbre vacilante
Como, tipo, olho por dente
Sono por cama,
Mas o sucesso eis estridente
De passar andando


Sete vidas
Sete cores do arco-íris
Per/ fecto
concebido do momento


Quem sempre vê assim
não fala alguma.
Dança, dança, vício
Alah depois de várias
Fomes
No quietar,
próximo dia



Quem vê depois
ao pé do ouvido,
passo a passo
que desova...


ROBSON CUNHA [24.02.09]

domingo, 22 de fevereiro de 2009


Gênesis



Um dia, quando ainda não havia dia algum,

E tudo era a ausência de tudo

Dissera Deus:

Que se faça o caos. E o caos se fez

Da eterna desordem das coisas.

E o caos então criou o homem.

E o homem, no balanço de tudo que não havia,

Frustrado por não possuir o que não possuía

Criou um deus.

E o Pai, tristonho, abandonado,

Inutilizado e esquecido pela nova crença,

Que a tudo explica e a tudo esconde e esconde-se na fé,

A ciência do espírito e a essência da ilusão,

Está eternamente descansando

Em sua tenda de nuvem em algum lugar de algum mundo

Ou em uma estrela qualquer,

Observando, de longe,

Nossa incessante busca e tola fé.



Não. Deus não está em todos os lugares.

Não está aqui agora. Nem à nossa volta nos cuidando.

Já foi há muito por nós expulsado.

E, insensatos, um imã de geladeira à nossa imagem idolatramos.

E por ele rogamos,

E a ele entregamos a alma de nossos filhos

A ele, perdidos, pedimos perdão,

E cremos sermos perdoados.

E a ele entregamos nossas próprias almas...,

Reflexo de nosso ego inflado.



Esculpimos a nós mesmos no sabão,

Apagamos a luz e fingimos tê-lo perdido.

Se ascendemos uma vela, o encontramos.

Felizes em nossa ilusão, erguemos altar e fazemos oração.

Depositamos ali todos os nossos sonhos,

O que devíamos levar conosco para todo o sempre.



É que em nossas mentes hipócritas

Não há espaço algum a Ele agora.

Se estivesse aqui no mundo, não o procuraríamos tanto.

Ele está lá, em algum remoto canto, nos observando,

E nós cá, baratas tontas,

Venerando nosso próprio espelho,

Tentamos voar e alcançá-Lo com as asas que criamos. Tolos.

Não sabemos pra onde voar. E se lançamo-nos ao ar,

Perdemo-nos sem rumo

No infinito espaço de nossas falsas esperanças.



Manoel Guedes de Almeida

Santos-SP, terça-feira, 29 de julho de 2008.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

O dilúvio embriagado.

O dilúvio embriagado.

Afoito das Mônadas do fim:
Meu coração quebrado arde a rolar
Mastigando a débil flor jasmim
Sufocando de um dia não ter que amar

Ninguém vai chegar, e estou feliz
Minha casa sombria a festejar
A dor: parca aziaga, ardor e fremir:
- Uma a uma a tecer fios do emaranhar.

Mas, tarda, o teu sentir não me desperta;
Frases lágrimas tombos entusiasmo.
Ninguém vai chegar, e estou a bradar

[Como se tua partida nem fizesse
Som aos meus mil ouvidos de riacho
Vê corações em risos, tombos, preces...

Thymochenko

Soneto do homem imortal



Então, despedir-me-ei de todos, um a um,
E fecharei os olhos e lembrarei.
E sorrirei com o canto direito da boca,

de leve.
Mas ninguém me verá.

Mundo sem árvores, sem girassóis.
Céu só luz. Corpo sem pele.
[
alma vazia

Treinarei tantas vezes. Escreverei tantas frases.
Tantos discursos fúnebres...

E verei todos que mais amei serem levados
Lavados. Leva. Pro fundo da terra.

E chorarei
Sem que as lágrimas toquem o chão.
Não há chão onde se fixe a terra.

Escavarei o pó
do pó
[umedecido
Revolver-me-ei, sentimentos breves, grão a grão.
Mundo vazio. Solidão.

Enterrar-me-ei em mim.
Refar-me-ei mundo, então.



Manoel Guedes de Almeida
Santos-SP, terça-feira, 04 de novembro de 08.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009


Sobre amor e ilusão

Depois de um tempo você percebe,
sei que percebe,
Que o amor não é absolutamente nada
do que você achou que o fosse,
Que as músicas eram só co-incidências
E os olhares somente ilusão.

Percebe que amor é pura necessidade fisiológica
E que tateara na vida

como um cego no escuro,
perdido, sem direção.

Percebe que o que é sensível ao tato
não é amor,
Pois o amor não pode ser sentido

com o sentido do toque.

Então,
se lembrares que um dia ouvira "te amo muito e pra sempre!"
Esqueça...,
Não se pode medir
o que mesmo com a imaginação

não se pode conter;

Mas você percebe, sei que percebe.
Que aceno com a mão não é flecha de cupido,
Que quando alguém lhe diz,
[e várias vezes dirão,
"Eu te amo", como se fosse "bom dia",
Percebe que "eu te amo" quis dizer exatamente "bom dia",
Mais nada.

Porque se se é Amor,
Não há tempo que o prenda ou restrinja.
Não se ama por uma noite ou final de semana,
ou mesmo por anos...
Só se é amor se se for pra sempre.

Mas você já sabia disso.
sabia que as pessoas mentem pra lhe DEIXAR feliz,
E se não há nada que lhe deixe mais feliz
Que alguém que te ame de verdade,
Se você não tem nenhum hobby,
Não joga bola, não faz caminhada,
Não assiste a peladas...,
Não se desespere (muito)
Existem várias formas praticamente indolores de suicídio
Que lhe serão bastante úteis adiante,
Quando tu vires que toda a tua vida
Não passou da realidade.

Perceberás então
que Amor não se escreve em cartas
E não se lê em livros,
não se faz no ato
nem exala das cenas de amor
dos filmes

Quando se livrares do amor-moeda
que suborna o mundo
e perceberes
que flores não pagam sorrisos,
que castrar plantas não é nada romântico
E que romance é apenas fantasia da hello kitty,

que "...não há príncipes ou princesas,
nem cavalos brancos..."
[no máximo um jegue e uma espada de plástico,

Pode ser que nesse momento,
se ainda respirares ou fores inda humano,
Você sinta, se é que sente,
[e não perceba ou entenda
Sem fantasias de carnaval ou imãs de geladeira,
O que de fato é
Amor sem fim.



Manoel Guedes de Almeida
Santos-SP, 13 de abril de 2008 (3h57min).