terça-feira, 28 de outubro de 2008

A musa

dedicado a Gysline marques de Oliveira.

A musa.

Vais a correr silencioso! grande rio!
E estes teus olhos de velha serrania
Me remete a um passado vago e moroso.

Enquanto teu olhar, este velho olhar
Impreciso e amargo filtro de ouro
Estiver a tocar como um sino divino
Neste coração vazio como um balão

Eu não ei de esquecer este velho olhar.

Mas se da saudade posta, o grande couro.
Este meu passo desvia do teu beijo
Mais por preciosismo, grande tesouro,
A minha memória te conserva
Sem defeito.

Se teus olhos de mulher alada e fria
Se teus lábios quentes como o sal
Ainda estão a tanger meus rios e símbolos
É certo que o que sinto é um mal...

Eu, poeta, preso as pedras da montanha
Tenho teu nome supracitado no peito.
Tenho tatuagens de músicas frias
Tenho poemas coagulados na pétala
Tenho as cores guardadas para te dar.
Tenho um amor de cristal e o azul do mar.

Eu, poeta, preso as pedras da montanha
Um ser irreconhecível, esguio e fantástico,
Acostumado a solidão e o precipício
Tenho apenas as cores que quero
Tenho apenas as imagens do que amo.
Numa caverna ideal cheia de obstáculos.

Só tu mulher, adornada de chama e cinza
Tens a chave, a pílula, a fração de minha ânsia
E a resposta abobada
Do que posso descrever ou esquecer
Do que é o “amor”.